terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Crianças envelhecem

Quando nascemos, trazemos conosco os sonhos e desejos de nossos antepassados, principalmente de nossos pais. Todos querem que seus filhos sejam pessoas felizes e que tenham saúde. Além disso, que sejam parecidos com seus progenitores. Ah, adoram a célebre frase: “Oh... É parecido com a mãe” ou “É a cara do pai”. Nesse momento, os pais “babam”. É o ponto alto da perpetuação da sua espécie. “É o MEU filho”. E, para que tal afirmação continue sendo verdadeira, após o nascimento, esses pimpolhos são educados à sua imagem e semelhança e, o mais importante, seus valores. Aí é que “a porca torce o rabo”, usando uma expressão pitoresca.

Quais valores esses rebentos recebem? Como é a infância das nossas crianças? São passadas a elas os valores de tolerância, solidariedade, coleguismo e outros tantos que auxiliam na formação de pessoas do bem e que fazem o bem? Qual é o papel da escola depois que “a vaca foi pro brejo?” Como ensinar a não roubar quando inocentes presenciam um “gato”, um ato irresponsável dos pais? Se esses pais são seus primeiros referenciais para formação de seu EU, como falar sobre segurança no trânsito se pais voam nas estradas, carregam seus filhos, mais de um, em motos e as levam para as escolas? O que pode fazer uma professora dentro de um ambiente fechado com 25 ou 30 crianças, ávidas por mais e mais novidades, se a professora não tem dinheiro para comprar um tablet com seu salário e muitos alunos levam esses aparelhos para as salas de aula, pois ganham de seus pais como se fossem a preço de rapadura? Como dizer nesse momento que o trabalho honesto compensa se ser um “aviãozinho” compra mais do que tênis e um super celular? Enquanto a professora mal consegue “colocar crédito” em seu celular “de cartão”?

Difícil tarefa de educar numa sociedade corrompida pelo prazer fácil, rápido e barato. Quando o poder público não percebe que o público está se tornando terra de ninguém. Crianças sendo matriculadas em escolas perto de casa com o intuito de facilitar a vida dos pais. Mas até quando esse fato facilitador ajuda na educação? Quantas crianças são largadas para irem sozinhas à escola enquanto pais ficam em casa (dormindo)? Com a justificativa de quem a escola é ali pertinho, crianças são emancipadas a jovens adultos. Atravessam as ruas, desviam de carros, andam pelas calçadas sozinhas à mercê de toda sorte ou azar. Enquanto isso, filas de crianças envelhecem nos orfanatos pela burocracia imposta. São perguntas, critérios e mais outros tantos empecilhos. Por que pais biológicos também não passam pelo pente fino da burocracia? Por que enquanto muitos põem seus filhos à mercê da vida outros tantos jamais terão a oportunidade de dar amor?

Esquecem, pais e poder público, que as crianças envelhecem. E envelhecem cedo. Jovens com doze ou treze anos estão parindo bebês que serão “a cara da mãe” e, para piorar a situação, nem podemos saber se se parecem com o pai, porque esse pai já se mandou muito antes da barriga da mãe crescer. Nossas crianças envelhecem cedo com os valores que aprendem cedo. São crianças com responsabilidade de adultos aos 15 anos. Pré-adolescente que têm em suas mãos a responsabilidade de dar conta de seu próprio futuro. Qual bagagem essas crianças e jovens têm para serem responsáveis por si mesmas aos 15 ou 16 anos? Muitas vezes com menos idade ainda. 
Por fim, fica a certeza de que estamos vendo a nossa sociedade sendo formada por jovens velhos. Com sua carga de dor, desamparo, desproteção, desamor e com a grande responsabilidade do futuro em suas mãos. Que futuro nós teremos? Fica o alerta para pais e gestores. A responsabilidade está aí. O que vocês farão?

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