quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Feira do Livro: Alforria Literária

Que todos sabem que a leitura auxilia no desenvolvimento cognitivo daspessoas, aumenta o vocabulário, ajuda no desenvolvimento do ser crítico todossabem, inclusive a classe pedagógica: os professores. Mas pôr em prática ohábito   da   leitura   “são   outros   quinhentos”.   Por   que   ler   ainda   enfrentaresistência? Por que a prática de comprar livros ainda é tida como um atosolitário ou visto como ato burguês? É exagero? Vamos refletir.

Pais   matriculam   seus   filhos   nas   escolas   por   dois   grandes   motivos:porque é obrigatório e porque querem que seus filhos aprendam a ler e aescrever.  O  primeiro motivo  nem  iremos abordar  neste  texto, entretanto,  osegundo motivo ou intenção paternal merece um olhar mais detalhado. O quesignifica aprender a ler e a escrever para os pais? Depende.

Temos aqui, novamente, duas alternativas em que uma não anula aoutra. Nas duas opiniões temos pais que almejam um futuro promissor a seusfilhos, porém, de um lado temos pais que desejam que seus filhos tenhammelhores oportunidade na vida, sendo assim , tanto a leitura, quanto a escrita,bem como a aprendizagem do calcular são apenas caminhos para uma maiorcompreensão do mundo, são pontes que permitirão que seus filhos aprendammuito mais do que decodificar letras e números, mas saibam ler o mundo.Desta forma, o ler ultrapassa ler livros didáticos, vai além, ler passa ser umaforma para alcançar um futuro promissor, além de ser um prazer. Faz parte deum aprender sorrindo. Mais ou menos isto. Portanto, ir a uma livraria e comprarlivros faz parte do pacote do aprender a ler e a escrever e do vislumbrar umfuturo colorido e de sucesso.

Em contrapartida, temos do outro lado, pais que têm por conceito queaprender a ler e a escrever (e calcular) é necessário apenas para um futurobem próximo, faz parte do ir ao armazém para comprar pão, leite, cigarro ecerveja. Na crise que enfrentamos, não podemos errar no troco! E isto basta. Éuma leitura de armazém. Neste caso, ir a uma livraria e comprar um livro estáfora de cogitação. Ler livros para quê?

Mas quando estas duas vertentes se cruzam, ou seja, se encontram naescola, há os conflitos. Surgem os dilemas dos professores que têm de umlado alunos que possuem duas visões da leitura e quando chega esta época doano em que escolas se programam para visitar a Feira do Livro (de POA) háum “baque”. Visitar, comprar, pra quê? 

Desta forma, as escolas vão à feira e os livros ganham um período dealforria, pois neste evento, ganham seu espaço sem grandes conflitos. Podem
se exibir para todos. Ganham glamour. Os filhos dos pais que desejam umfuturo mais longínquo e do futuro mais ali adiante se divertem na feira. Ascores, as formas, os cheiros dos papéis são alucinógenos para um cérebrocarente de cultura literária. Todos se libertam e a festa acontece. 

Porém, não se engane, é apenas por um período apenas. Por que tãologo este tempo termine, os filhos do futuro de boteco voltam para as suascasas, para seus pais com as suas verdades caseiras. Voltam com as mãos eas  mentes  vazias ou,   no  máximo,  povoadas  por  livros  de   baixa  qualidadeliterária e por corações sem recordações a serem guardadas. E, do outro lado,os outros filhos, mesmo com pouca grana, desbravam balaios e voltam paracasa com relíquias literárias, além de trazerem corações tomados por umasaudade que já se forma e recordações de palavras e papéis poéticos. Aindahá de chegar o tempo em que os filhos sem recordações consigam se permitira gostar e admirar a palavra escrita e seja ponte entre a feira e seus pais,conseguindo então, reverter esta situação, dando a carta de alforria definitivaaos livros!E viva a 62ª Feira do Livro de Porto Alegre

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Geração de órfãos

Sabemos que o tempo não para e que as mudanças estão aí e não podemos fugir delas. Entretanto, algumas mudanças comportamentais alteraram drasticamente a vida harmônica em sociedade. As famílias cada vez mais sendo formadas por mães e filhos e a defasagem na vida econômica trouxe para a atualidade transtornos que, no primeiro momento, foram vistos como fáceis de transpor, agora são motivos de desajustes tanto em casa, na vida social quanto na escola. Conviver está sendo um problema. Conviver em harmonia então é privilégio de alguns. Onde está o erro? Cadê a solução?
Dificilmente encontraremos um único erro, bem como está complicado encontrar uma solução que agrade a todos os novos gostos. Devemos procurar tratamento urgente. Como a dificuldade econômica em se manter uma família está cada vez
maior, as mulheres, antes “do lar” agora vão para a rua. Além disso, uma necessidade de serem todas iguais tapou os olhos de algumas mulheres que viam em sua antiga “tarefa” como algo banal e de pouco valor. Ter valor é ir para a rua trabalhar. Sim, isto tem muito valor. Por outro lado, esquecem-se de serem mães. Infelizmente, temos casos de crianças que já nascem condenadas à orfandade. Embora o vínculo paterno seja muitíssimo importante, é na mãe que a criança se apoia moral, espiritual e emocionalmente. Além do mais, ainda temos as crianças órfãs “de corpo presente”. São aquelas ditas mães que não trabalham fora de casa, mas estão distantes de seus filhos. Estes exemplos são “escondidos” com o material. Não é raro ver crianças pobres ou ricas repletas de presentes materiais e sem o beijo dos pais.
Entendemos que cada vez mais precisamos trabalhar fora para manter a vida. Entretanto, viver sem amor é ser uma máquina e máquinas precisam de alguma forma de energia para se manterem úteis e esta energia está vindo em forma de tecnologia fugaz para as nossas crianças e jovens em formação. Ficamos a pensar o que estes pais que largaram a educação de seus filhos para o virtual pensam como será a velhice deles. Será que os filhos, hoje largados na mão da televisão se importarão com seus pais no futuro? Se, educação vem mais pelo exemplo do que pelas palavras, quais exemplos essa nova sociedade está passando para seus filhos?
Para finalizar este momento de reflexão, lembro-me de um caso em que presenciei de uma criança com uns sete ou oito anos indo sozinha para a escola com o seu celular (a toda altura) em suas mãos. Passou ela por ruas, semáforos e foi cumprir o seu dever de estudante. Será que ela cumprirá o seu papel de filho amoroso quando seus pais estiverem idosos? Quanto desamor. O que esperar destes jovens em sala de aula? Revolta. Muitas vezes, uma revolta silenciosa, camuflada por mau comportamento ou depressão infantil. Vale a pena repensar sobre nossas crianças e jovens para começar a pensar numa solução. Afinal, basta olharmos para os lados para vermos asilos lotados, creches lotadas, escolas lotadas e lares vazios. Onde está o erro e cadê a solução?

domingo, 3 de julho de 2016

Presente descompromissado = Futuro descomprometido

A falta de compromisso com a infância e adolescência gera um adulto descompromissado com a vida. Deixar para depois, o passar a mão na cabeça, pois são pequenos, a tal frase: “a vida ensina” nem sempre surte o efeito esperado e, muitas vezes, gera cidadãos medíocres e inertes. Quando falamos da criança e do adolescente precisamos entender que esses são pessoas, não um rascunho que poderá ser melhorado. Diferente da situação em que você pode pegar uma folha em branco e fazer seus esboços, podendo errar quantas vezes for preciso, jogando na lixeira as tentativas erradas, a formação do cidadão do futuro passa pelas mãos dos pais e professores. Isso é muito sério. Não basta ser pai, tem que ser formador! Não existe a possibilidade de jogar na lixeira uma criança e começar tudo novamente. 
Temos que nos esforçar o máximo para acertar! Entretanto, encontramos por aí pais acovardados em sua missão. Têm medo de dizer “não”, têm medo de machucar, têm medo de ensinar. E, sendo assim, fazem todas as vontades de seus filhos, não ensinando respeito, comprometimento e outros tantos valores, jogando toda a responsabilidade da formação moral para a escola, que encontra, muitas vezes, professores amedrontados por pais que não fazem a sua parte e querem, querem não, exigem duas posições distintas da escola: a primeira é que tratem o filhinho querido da mesma forma que o bebê é tratado em casa, com todas as regalias e sem conhecer o que é “NÃO” ou, na segunda opção, cobram da escola que seu corpo docente seja mais enérgico com seus pimpolhos, que ensinem respeito, justiça, solidariedade e comunhão. E, pasmem, que ensinem a respeitar os mais velhos e, nesse caso, os próprios pais se enquadram. Há pais que chegam às escolas desesperados, que perderam totalmente o respeito de seus filhos, soltaram as rédeas desde o útero, se tornam amiguinhos dos filhos no berçário, não conhecem a diferença entre ser pai e ser amiguinho e agora suplicam uma posição firme dos professores. 
Ensinar valores faz parte da educação dos pais. Não basta gerar filhos. Há que se gerar o futuro do país. A gravidez acontecendo cada vez mais cedo assusta. Quais valores essas adolescentes (porque os pais somem!) vão passar aos filhos? Muitas vezes, são jovens que mal sabem escrever seus próprios nomes, e que não conseguirão nem ajudar seus filhos nas tarefas de casa! Que futuro está sendo gerado hoje? Quais compromissos esses jovens têm com o país? Quais esperanças que gerarão conselhos a seus pimpolhos? Crianças gerando crianças! Adolescentes que engravidam muito cedo e se orgulham disso! E têm ao seu lado, avós também orgulhosos. Todos desempregados de esperanças. Quais valores passarão na construção moral desse ser que recém chegou ao mundo? Dessa forma, podemos concluir que o futuro está nas mãos de uma bomba relógio que irá, não sei quando, explodir, levando consigo muitas possibilidades de uma vida com sonhos. 
Por isso que o descomprometimento de pais e professores é culpado também pela não formação de um futuro digno e igualitário. Ensinamos justiça quando o filho deixa de fazer o tema e o pai espera que ele seja repreendido pela professora. Da mesma forma, a escola ensina respeito quando não permite que um aluno ofenda verbalmente um colega ou uma professora pensando que essa é a linguagem que eles praticam em casa, por isso, é normal falar palavrão. Para finalizar, eu soube de um caso verídico em que o aluno mandou a professora “para aquele lugar” e, ao ser chamada à escola para conversar sobre o assunto a mãe, irritadíssima por ter que ir à escola, justificou a atitude do filho com a frase: “Algum motivo ele teve pra mandar aquela pra (...)”. Onde estamos? Que país nós estamos, como adultos, colaborando em construir? Por isso, não somente na mão de criança e adolescente está o futuro do Brasil, mas também nas mãos de pais e escola. Ainda bem eu há exceções.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Ensinamentos de bicicleta, aprendendo com a queda

Quem de nós não teve um joelho esfolado? Sabidamente, quando criança, não há quem não diga que não levou um tombo. Ou de uma árvore, ou na brincadeira de pega-pega ou uma queda de uma bicicleta. Esse último então, há muitos relatos da forma que foi o tombo, mas que esfolou o joelho, ah... Esfolou. E a dor? E a surra além da dor? Sim, porque não basta cair, esfolar o joelho, tem que levar uma surra da mãe ou do pai porque se rasgou a roupa, porque estava fazendo traquinagem na rua, ou porque deixou de fazer o tema para ficar de algazarra na frente de casa. Dor em dobro.
Depois da queda vêm os cuidados com as feridas causadas. E dói. Dor ao quadrado. E vêm os famosos castigos. Sem ir para a rua brincar por causa dos ferimentos que ainda não cicatrizaram e por causa da traquinagem feita anteriormente. Dor multiplicada pela dor.
E assim é a vida. Caímos, machucamos, levantamos e seguimos em frente. Tanto com os tombos causados pela bicicleta quando criança, quanto com os tombos que levamos durante a vida. E existem muitos tombos na fase adulta.
Não há acordar e dormir sem um intervalo de quedas, reflexão e aprendizagens. O feio não é cair. Errar é fatal. Mas temos que aprender com elas. Ver uma nova forma de pedalar, ter atenção com o tipo de terreno a escolher para praticar as pedaladas enfim, há que haver reflexão e, por fim, aprendizagem.
Com o tempo, podemos distinguir entre o terreno plano e um passeio tranquilo a um terreno com lombas e obstáculos e viver perigosamente entre as pedaladas e os tombos. Cada um de nós pode escolher o tipo de estrada a percorrer.
A vida está aí. Votou certo, votou errado? Não votou? Sempre haverá uma nova chance de avaliar os caminhos e escolher por onde seguir: terrenos sombrios ou ensolarados? Até quando optaremos por continuar a esfolar nossos joelhos?

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A difícil tarefa de esperar

Passamos a vida esperando por algo ou alguém. Se prestarmos bem atenção, a nossa vida é feita de espera. Esperamos um novo dia, uma nova noite, uma nova chance, um novo emprego, uma nova atitude, um novo prato, uma nova bebida, o fim de um livro, de uma novela, de um telejornal ou o fim de uma saudade.
Esperar faz parte do ser humano. Esperamos o início do ano letivo, depois esperamos as provas, depois das provas vêm as notas, um novo trimestre, um novo Natal, um novo final de ano e outro carnaval. E, dessa forma, o tempo não espera a nossa longa espera e ele vai passando. E nós nem percebemos o seu movimento.
Um dia, de repente, encontramos na rua ou em redes sociais, um amigo da época da nossa juventude ou de quando éramos crianças e BUM! Pensamos cá com os nossos botões: “Nossa, como o #%#% envelheceu!”. Desse ponto até percebermos que o tempo também passou para nós é um clic.
E continuamos a esperar. Esperamos o primeiro beijo, o primeiro namorado, esperamos o dia do casamento, da chegada do filho, do neto, das eleições e uma nova chance de acertar. Esperamos uma novidade, esperamos uma saída.
As roupas vão secando no varal sem pressa e nós seguimos esperando que elas sequem o mais rápido possível porque vem chuva, a noite, a festa, a dança, o sorriso, o choro. E vêm outros dias, outras noites. Entre uma espera e outra vem alguns desencontros e passamos a esperar a dor passar, o trem passar e as folhas caem, os galhos voltam a florescer e o tempo vai transformando a espera em experiência de vida.
Pois bem, quando percebemos que podemos fazer muito mais do que esperar ou que esperar é perder tempo, eis que chega o que não estávamos esperando e as dores se fortalecem no corpo carregado de espera e nada não queremos esperar por ela.
Por fim, sem ser esperada durante toda a vida ela chega para todos. Para os ávidos de espera ou para os mais tranquilos no seu aguardo. E, quando não aguentamos mais o peso de tanta experiência contida, guardada num corpo que soube esperar muito, a nossa saída é voltar a esperar o alívio imediato e passamos a esperar pelo paraíso infinito.

Carta ao Papai Noel

O que pedir ao Papai Noel? Assim começa esse texto. Inicia com essa questão que, a princípio, parece tão infantil. Entretanto, há necessidade de um olhar mais leve nesse momento senão, corremos o risco de enlouquecermos dentro de um redemoinho de mentiras e descrenças. Basta estarmos por cinco minutos em frente a um telejornal que percebemos que nossos sonhos infantis perderam-se com o tempo. Como reviver aquela singela esperança num ano novo melhor se só enxergamos desastre social, cívico, político e cultural? O que pediríamos ao Bom Velhinho? Paz, saúde, amor, esperança, mais vergonha na cara? Poxa, os pedidos são tantos que nos deparamos com a possibilidade de escrevermos uma carta repleta de lamúrias.
Ao findar um ano, embora todos nós tenhamos passado por algum momento difícil, sempre guardamos alguma esperança, mas na atual conjuntura em que nos encontramos, que esperança ainda resta na caixa de Pandora? Como acreditar no Bom Velhinho, estando nós passando por uma avalanche de mentiras? Talvez devêssemos pedir luz na hora da escolha do voto para o ano que vem? Mas será que essa luz será suficiente para acertarmos?
Será que o Bom Velhinho é tão bom assim? Não estaria ele disfarçado de boa gente a fim de nos roubar a esperança? Não, não, não! Basta de conjecturas, vamos diretamente ao que interessa: o que vamos escrever na carta ao Papai Noel? Sim, se a você fosse dada a oportunidade de escrever essa carta, o que você pediria? E não vale dizer que só tem a agradecer, pois essa declaração é muito egoísta diante de tanta miséria, fome, tristeza e corrupção que assola a humanidade.
Por fim, cada um de nós pode listar uma grande quantidade de dores e tristezas que desejamos findar. Dar fim a dor é a nossa missão. Mas quais dores atormentam a humanidade? Dor física, emocional, psíquica? Somos capazes de nos emocionarmos com a dor do próximo? Talvez esse fosse o meu principal pedido ao Papei Noel, que as pessoas pudessem se emocionar com a dor do próximo. Quem sabe, dessa forma, saberia o quanto dói ser roubando na sua dignidade, na sua pureza, na sua ingenuidade e na sua infância particular. No Natal, todos nós, em algum momento, voltamos a ser criança por um instante e, ao relembrarmos esses momentos vividos no passado, queremos por um recorte no tempo, sermos apenas sorrisos de alegria. Tal qual uma criança sorri ao encontrar o seu presente embaixo da árvore. Ela não viu o Papai Noel, mas sabe que ele esteve ali e trouxe para ela a oportunidade de ser feliz.
A todos vocês, leitores, desejo um Natal repleto de emoção e muitas oportunidades de felicidade!
Feliz e abençoado Natal.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Crianças envelhecem

Quando nascemos, trazemos conosco os sonhos e desejos de nossos antepassados, principalmente de nossos pais. Todos querem que seus filhos sejam pessoas felizes e que tenham saúde. Além disso, que sejam parecidos com seus progenitores. Ah, adoram a célebre frase: “Oh... É parecido com a mãe” ou “É a cara do pai”. Nesse momento, os pais “babam”. É o ponto alto da perpetuação da sua espécie. “É o MEU filho”. E, para que tal afirmação continue sendo verdadeira, após o nascimento, esses pimpolhos são educados à sua imagem e semelhança e, o mais importante, seus valores. Aí é que “a porca torce o rabo”, usando uma expressão pitoresca.

Quais valores esses rebentos recebem? Como é a infância das nossas crianças? São passadas a elas os valores de tolerância, solidariedade, coleguismo e outros tantos que auxiliam na formação de pessoas do bem e que fazem o bem? Qual é o papel da escola depois que “a vaca foi pro brejo?” Como ensinar a não roubar quando inocentes presenciam um “gato”, um ato irresponsável dos pais? Se esses pais são seus primeiros referenciais para formação de seu EU, como falar sobre segurança no trânsito se pais voam nas estradas, carregam seus filhos, mais de um, em motos e as levam para as escolas? O que pode fazer uma professora dentro de um ambiente fechado com 25 ou 30 crianças, ávidas por mais e mais novidades, se a professora não tem dinheiro para comprar um tablet com seu salário e muitos alunos levam esses aparelhos para as salas de aula, pois ganham de seus pais como se fossem a preço de rapadura? Como dizer nesse momento que o trabalho honesto compensa se ser um “aviãozinho” compra mais do que tênis e um super celular? Enquanto a professora mal consegue “colocar crédito” em seu celular “de cartão”?

Difícil tarefa de educar numa sociedade corrompida pelo prazer fácil, rápido e barato. Quando o poder público não percebe que o público está se tornando terra de ninguém. Crianças sendo matriculadas em escolas perto de casa com o intuito de facilitar a vida dos pais. Mas até quando esse fato facilitador ajuda na educação? Quantas crianças são largadas para irem sozinhas à escola enquanto pais ficam em casa (dormindo)? Com a justificativa de quem a escola é ali pertinho, crianças são emancipadas a jovens adultos. Atravessam as ruas, desviam de carros, andam pelas calçadas sozinhas à mercê de toda sorte ou azar. Enquanto isso, filas de crianças envelhecem nos orfanatos pela burocracia imposta. São perguntas, critérios e mais outros tantos empecilhos. Por que pais biológicos também não passam pelo pente fino da burocracia? Por que enquanto muitos põem seus filhos à mercê da vida outros tantos jamais terão a oportunidade de dar amor?

Esquecem, pais e poder público, que as crianças envelhecem. E envelhecem cedo. Jovens com doze ou treze anos estão parindo bebês que serão “a cara da mãe” e, para piorar a situação, nem podemos saber se se parecem com o pai, porque esse pai já se mandou muito antes da barriga da mãe crescer. Nossas crianças envelhecem cedo com os valores que aprendem cedo. São crianças com responsabilidade de adultos aos 15 anos. Pré-adolescente que têm em suas mãos a responsabilidade de dar conta de seu próprio futuro. Qual bagagem essas crianças e jovens têm para serem responsáveis por si mesmas aos 15 ou 16 anos? Muitas vezes com menos idade ainda. 
Por fim, fica a certeza de que estamos vendo a nossa sociedade sendo formada por jovens velhos. Com sua carga de dor, desamparo, desproteção, desamor e com a grande responsabilidade do futuro em suas mãos. Que futuro nós teremos? Fica o alerta para pais e gestores. A responsabilidade está aí. O que vocês farão?